O papa Francisco declarou nesta segunda-feira: “há mais mártires na Igreja hoje do que nos primeiros séculos”. Disse isso na comemoração dos primeiros mártires de Roma, mortos na colina vaticana durante a perseguição de Nero, no primeiro século. Há muitos mártires hoje em dia, alguns que testemunham a fé com o próprio sangue, outros, sendo perseguidos e mantendo a fé.
Não faz muito tempo, noticiei aqui o martírio da sudanesa Meriam Yahya Ibrahim, presa e condenada à morte por “apostasia”, mesmo tendo sido cristã desde criança. Grávida, deu à luz na prisão, mas presa pelos pés, sem poder sequer abrir as pernas como deveria. Sua filha é deficiente por causa disso. Felizmente, encontra-se refugiada na embaixada americana, esperando documentos que permitirão sua saída do país.
A notícia de hoje dá conta da piora do estado de saúde de outra mártir, Asia Bibi, presa e condenada à morte no Paquistão por “blasfêmia”. Mesmo os muçulmanos que a defendem são alvo dos extremistas islâmicos. O Paquistão é um dos países que mais mártires fornece à Igreja, tanto católicos quanto protestantes.
Também hoje, outra notícia se refere à insegurança vivida por meninas e mulheres cristãs em Bangladesh, à mercê de violência sexual. E um terceiro caso é a perseguição em Mosul, no Iraque, pelos combatentes do chamado “Estado Islâmico do Iraque e do Levante”. Além daqueles que fugiram da cidade (como os cristãos que fugiram de Jerusalém durante o levante judeu de 66-70 d.C.), duas freiras e três meninas foram seqüestradas e igrejas foram saqueadas. Da igreja sírio-ortodoxa dedicada a Santo Efrém, a cruz foi retirada do altar.
Temos ainda o caso do testemunho dado pelas famílias afetadas pela guerra civil na Síria, onde os cristãos em geral procuraram manter-se neutros, apesar de acossados pelos insurgentes. A neutralidade visa justamente a não se tornarem alvo em uma guerra que envolve facções islâmicas, inclusive a que se apoderou de parte do Iraque, anunciando a criação de um novo califado. É extremamente preocupante a situação dos cristãos nos dois países.
Estamos todos unidos a estes mártires quando vivemos e damos testemunho de nossa fé. A cada Eucaristia celebrada, a cada sacramento que se realiza, participamos do testemunho de Jesus Cristo, e com ele estamos junto de todos os que sofrem a perseguição religiosa. “Mártir” é aquele que dá testemunho, e é justamente esse o significado da palavra de origem grega. Todos nós somos “mártires” quando vivemos cotidianamente a nossa fé, nos atos comuns e nos atos religiosos. Dar um “bom dia” cordial mesmo àquele que se faz nosso inimigo, amar os que nos odeiam — ainda que isso signifique apenas não desejar o mal —, dar graças a Deus por nossas vidas e por aqueles que somos encarregados de cuidar, ou mesmo por estarmos em um congestionamento rumo ao trabalho, pois temos uma ocupação digna e meios de chegar: são todos atos de testemunho, de martírio. Peçamos a Deus por nossos irmãos perseguidos, para que sejam fortalecidos pelo Espírito Santo e tenham como meta unir-se a Cristo. E que a Igreja tenha liberdade para pregar o Evangelho e fazer discípulos todos os povos. Amém!