Ultimamente tenho recebido mensagens de Whatsapp críticas ao sínodo sobre a Amazônia, algumas delas divulgando palavras dos cardeais Burke e Brandmüller, palavras que infelizmente colocam lenha na fogueira cismática – algumas até com a pretensão de prevenir contra o cisma. Por favor, não ataquem a Igreja, pois eu a amo e vou defendê-la. Ela é a única certeza que podemos ter de estarmos com Jesus Cristo: estamos com ele na união visível por meio do papa e do bispo diocesano. Fora disso, não temos onde nos agarrar para alcançar a Salvação. O texto a seguir, de uma mensagem que enviei hoje, é a síntese do que tenho dito em um grupo de Whatsapp de Brasília:
Não quero estender a polêmica, mas acho que seria bom ilustrar o que quis dizer uns dias atrás sobre a atitude do cardeal Burke – acaba servindo para muitas outras coisas que a gente lê por aí. Respeito muito o reverendíssimo cardeal, reconheço o seu conhecimento teológico e dedicação à Igreja. Não é à toa que foi feito cardeal. Mas, as coisas têm que ser colocadas em seus devidos lugares – para começar, reconhecendo que não sou ninguém para julgá-lo, e, ao mesmo tempo, esclarecendo o que penso.
Na época da polêmica que o cardeal Burke e um punhado de colegas seus criaram acerca das condições para a comunhão eucarística, chegando a divulgar uma carta que o papa não quis responder (e com razão, como me disse um teólogo), eu era aluno desse teólogo, membro da Comissão Teológica Internacional, o qual, por coincidência, era amigo de Burke. A disciplina era justamente Eucaristia. O que ele me falou, conhecendo o cardeal Burke pessoalmente? Que ele é muito zeloso pela doutrina, mas que não estava se comunicando adequadamente, criando uma celeuma desnecessária e contraproducente. Acaba que esses pronunciamentos, que parecem tão zelosos, colocam lenha na fogueira cismática.
Sobre o instrumentum laboris do próximo sínodo, assim como qualquer estudante de Teologia Fundamental, eles mesmos sabem que se trata de um documento de muito pouca importância doutrinária, e que o sínodo provavelmente nem tocará em muitos pontos polêmicos e se concentrará no que realmente interessa. Não vale a pena criar tanta polêmica por um documento assim.
Como disse o papa Bento XVI, a caridade e a verdade sempre devem caminhar juntas. Entretanto, há até quem oponha doutrina e pastoral. Contudo, pastoral é doutrina. Jesus Cristo, que é o Bom Pastor, disse a São Pedro: apascenta o meu rebanho. E o mesmo Cristo garantiu a São Pedro que o mal jamais triunfaria sobre a Igreja que seria erguida sobre essa pedra. Se estou com Pedro (chame-se ele Pio X, João Paulo II, Bento XVI, Francisco – não importa), se estou com o papa estou com a Igreja, e, se estou com a Igreja, sou um membro do Corpo de Cristo, no qual fui enxertado pelo Batismo. Fora disso não há salvação.
Portanto, não tenho medo de estar com o papa Francisco, o que só pode acontecer estando em comunhão com meu arcebispo, D. Sérgio. Eles, aliás, e não eu, receberam de Deus essa incumbência de serem pastores do seu rebanho. Para isso, contam com o auxílio especial do Espírito Santo. Não eu.
Vale recordar a carta Dilectionis vestrae (DH 468), do papa Pelágio II, cerca do ano 585:
Se bem seja claro, pela palavra do próprio Senhor no santo Evangelho, onde está o fundamento da Igreja, ouçamos todavia o que determinou o bem-aventurado Agostinho, lembrado deste mesmo dito do Senhor. A Igreja de Deus, disse, foi fundada sobre aqueles de quem se reconheceu que presidem as Sés Apostólicas [dioceses] por sucessão dos prepostos; e quem quer que se tenha afastado da comunhão ou da autoridade das mesmas Sés [afastando-se do bispo] demonstra estar no cisma. E, depois de outras afirmações, diz: ‘Posto fora, serás morto também para o nome de Cristo. Entre os membros de Cristo, sofre por Cristo, aderindo ao corpo; combate pela Cabeça’.
Mas também o bem-aventurado Cipriano diz entre outras coisas: ‘O início parte da unidade, e o primado foi dado a Pedro, para que a Igreja e cátedra de Cristo se mostre una’; e pastores são todos, mas o rebanho é mostrado como um só, devendo ser levado ao pasto pelos Apóstolos com unânime acordo.
E pouco depois: ‘Quem não respeita esta unidade da Igreja acredita que respeita a fé? Quem abandona a cátedra de Pedro, sobre o qual foi fundada a Igreja, e se lhe opõe, pode confiar de estar na Igreja?’
Não podem parmanecer com Deus aqueles que não quiseram viver em unanimidade na Igreja de Deus: e mesmo se arderem levados a ferro e fogo ou derem a própria vida jogados aos animais ferozes, tal coisa não será a coroa da fé, mas o castigo da infidelidade; nem será a chegada gloriosa, mas a perdição desesperada. Uma tal pessoa pode ser morta, ser coroada não pode.’
‘O crime do cisma é pior que o daqueles que sacrificaram aos deuses; estes, de fato, uma vez constituídos penitentes por seu crime, suplicam a Deus com pleníssimas satisfações. Lá se procura e se pede à Igreja, aqui se faz oposição à Igreja. Lá quem caiu causou dano somente a si, aqui quem tenta fazer um cisma engana a muitos, levando-os consigo. Lá há o dano de uma só alma, aqui, perigo para muitos. O penitente compreende que decerto pecou, lamenta e chora, o outro, inchando-se de seu pecado e comprazendo-se nas próprias culpas, separa os filhos da mãe, subleva as ovelhas contra o pastor, destroi os sacramentos de Deus e, enquanto o que caiu pecou uma só vez, este peca todo dia. Por fim, aquele que caiu, conseguindo mais tarde o martírio, pode receber as promessas do reino; mas este, se for morto fora da Igreja, não pode chegar aos prêmios da Igreja’.
Estejamos, portanto, com D. Sérgio [ou o arcebispo de cada um] e com o Papa Francisco para a nossa salvação!